Desde novo fui habituado a visitar anualmente a Feira Regional de Setúbal, também denominada de Feira de Santiago.
Lembro-me da sua grandiosidade (pelo menos aparente para um miúdo), do pórtico de entrada sempre diferente e inovador, de existir um tema da exposição sempre interessante.
Lembro-me de logo à entrada estarem os stands dos livreiros de Setúbal, sempre com ofertas a bons preços que aproveitei por diversas vezes para pedir um ou outro livro aos meus pais.
Lembro-me dos stands das cidades geminadas com Setúbal a dar uma outra dimensão, mais internacional, aquela Feira Regional.
Lembro-me dos stands das Associações Desportivas, Culturais ou de interesse Militar ou Social localizadas na Região de Setúbal.
Lembro-me da Praça de grandes dimensões onde ficavam dispostas as diversas marcas do ramo automóvel, entre o mais recente desportivo, e o mais possante tractor agrícola.
Depois dois enormes largos, repletos de stands de artesãos de todo o país, com destaque para os da nossa região. Entre tapeçarias, peles, madeiras e barros, todo o tipo de negócio se fazia por lá.
Era uma Feira que para além de servir de lazer à população da região de Setúbal, fazia muito para que os conhecimentos, a cultura, o desporto, da região não se perdessem.
Essa Feira honrava-me e fazia questão de pontuar essa honra sempre com uma bela fartura, delicia que só experimentava por essa altura.
Nos últimos anos, infelizmente, tal como a cidade tem morrido na sua essencia, também a sua Feira tem desvanecido aos poucos.
Transladada para um local que pouco diz aos verdadeiros setubalenses, é hoje em dia igual a qualquer outra feira que podemos encontrar pelo Portugal mais ou menos profundo.
Os stands de verdadeiro interesse deram lugar aos stands da Caipirinha, Caipirosca ou Caipiruca. As associações de emigrantes invadiram o espaço outrora destinado a associações vitais para a cidade, que também têm desaparecido por uma razão ou por outra.
Igualmente o espaço dedicado ao artesanato é cada vez mais pobre.
Já para não falar do facto do espaço automóvel. Onde antes podiamos encontrar as melhores marcas com os seus melhores modelos, hoje em dia encontramos usados, usados, e usados, cheios de pó.
Sinais dos tempos. Sinais de uma cidade cujos responsáveis não têm tido a preocupação de manter a "sua" massa cinzenta, preferindo deixar os jovens licenciados "voarem" para Lisboa, Porto ou estrangeiro, colmatando estas vagas com trabalhadores para a Construção Civil, o único sector (a par da restauração) que vai prosperando nesta cidade de Bocage e Luisa Tody.
Numa altura em que se coloca em dúvida a realização da Feira de Santiago, eu digo: que se acabe então com esta nova "Feira Agrícola das Manteigadas". 80 mil contos têm muitas outras aplicações numa cidade tão pobre como a nossa é, infelizmente.
Apostem no turismo, medidas fortes e não a palhaçada que se tem visto nos últimos tempos.
Modernizem estruturas, recuperem o património histórico da cidade, tanta coisa há a fazer!
domingo, 29 de junho de 2008
Feira de Santiago - Sim ou não?
Etiquetas:
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2 comentários:
A Feira de Santiago tem mais de 420 anos e acabá-la pura e simplesmente é acabar com uma das poucas coisas que ainda têm raizes em Setúbal, se bem que a Feira das Manteigadas de nada tem a ver com a Feira de Santiago.
Como te compreendo...
Ainda assim não me recordo de falhar um ano esta Feira...
Excelente texto e muito verdadeiro também. Desde gajinhe sempre fui à Feira, mas desde a mudança para as Manteigadas, perdeu-se a mistica toda. É igualmente uma triste verdade que "cidade cujos responsáveis não têm tido a preocupação de manter a "sua" massa cinzenta, preferindo deixar os jovens licenciados "voarem" para Lisboa[...]" e eu sou um exemplo disso. Fui obrigado a procurar emprego na capital, e a deixar Setúbal para trás.
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