Isto era para ser um comentário ao post anterior, mas já ia muito grande e o tema é de tal forma actual que pensei que merecia um post por si só.
Não partilho inteiramente da opinião do mirones. Já discutimos temas de actualidade bem mais melindrosos do que este e, por isso, não temo que este pequeno diferendo de opinião ponha em causa a nossa amizade. Melhor, partilho da indignação com o assalto mas não concordo inteiramente com as origens da criminalidade setuvaleira. Mas, para que fico claro, a tentativa de racionalizar a coisa, que aqui vou fazer, não invalida o sentimento de indignação que todos sentimos, ou deveriamos sentir quandos lemos estas notícias.
O panorama geral é preocupante. O distrito de Setúbal, que inclui zonas muito problemáticas em Setúbal, Almada e Barreiro tem um rácio de 48 crimes por 1000 habitantes, tornando-o no
segundo distrito do paíis com maior número de crimes por 1000 habitantes (o primeiro, já agora, é Faro, com 69 ocorrência por mil habitantes) . Com a agravante do carjacking ter aumentado a nível nacional em cerca de 33% de 2006 para 2007 e Setúbal (distrito) estar posicionado em 3º lugar a nível nacional neste tipo de crime.
Mas o crime não está a aumentar sem precedentes, ao contrário do que uma leitura regular das notícias possa dar a entender. Sim, está a aumentar, mas a um ritmo muito menos alucinante do que muitos pensam. Vejamos a evolução dos crimes reportados no distrito nos últimos anos (1998 a 2007):
- 1998= 19273
- 1999= 21280
- 2000=21751
- 2001= 21282
- 2002= 23840
- 2003=28025
- 2004=29919
- 2005=26219
- 2006=26771
- 2007=27336
Nota-se dois períodos distintos de "estabilidade", 1998 a 2002 e 2003 a 2007.
O que acontece é que o
tempo presente subrepõe-se sempre ao aos tempos idos na parte do cérebro que processa o sentimento de insegurança. No meu bairro, por exemplo, há tantos tiroteios (muito poucos) como no tão falado bairro social de Loures. Mas alguém acreditará nisso
hoje? Eu, se tal ajudar à prova, entro hoje no bairro da Quinta da Fonte com toda a tranquilidade e sem medo nenhum, porque aquilo não é uma favela do Rio de Janeiro, rodeada de gente com armas ao peito diariamente, mas a exposição mediática é tal que muitos não entrariam lá hoje nem que eu lhes pagasse.
A diferença é que no meu bairro, as imagens de tiroteios não vão parar à TV e não são Youtubadas, são estatística calminha. Reafirmo: o problema existe mas não na dimensão que se pensa.
Não creio que o problema da criminalidade se possa imputar
apenas a esta ou aquela etnia. O problema é que retirar grandes fatias da população da probreza e dos rendimentos mínimos, quando a pressão é para ser um excêntrico do euromilhões pura e simplesmente não combina. As colónias não foram criadas pelos que vieram de fora do país. Foram criadas pelos que já cá estão e chamam-se caixotes, perdão, bairros sociais, que de vez e quando, explodem e depois toda a gente se lembra deles.
Reponsabilizar as colónias de imigrantes pelos crimes de Setúbal é algo que não colhe em mim. A estatística orienta-me em sentido contrário. A Súecia tem um rácio de 141,6 crimes por habitante, a Finlândia 104,1... Portugal, o
melting pot Brasil, Ucrânia, Roménia, PALOPS para todos os gostos tem que ter um rácio maior, certo? Errado, 36,6 crimes por mil habitantes! Nós bem queremos ser mauzões, mas isso é só para os "civilizados" da Europa... Mais uma vez, crime sim, não o exagero que se pensa.
Bom, mas então e medidas? Sim, porque podemos e devemos querer alcanaçar um nível de crime em que possamos dizer "olha que giro, este senhor está a assaltar-me, isto já nem se usa!".
Imigração, colónias desta ou daquela etnia não parece que seja o problema. Sou inclusivo, pertenço a um povo de "brandos costumes".
Acredito em polícia mais motivada, mais equipada, mais preparada (é uma utopia a curto prazo, mas é uma luta que tem de ser travada). Quando aqui há tempos alguém pediu que os agentes da esquadra da Bela Vista tivessem shotguns, fiquei de pé atrás. Afinal de contas ainda não passou assim tanto tempo desde aquele episódio em que um agente da PSP mal formado, matou um jovem com uma shotgun, porque não sabia o básico: uma munição de borracha perfura o corpo se se enscostar a shotgun à barriga de alguém...
Portanto, armas sim, tasers, shotguns, seja o que for, mas para os agentes com a cabeça no sítio que as saibam usar e no momento certo. E mais defesa nos tribunais para quem dispara senão cumpre-se frase que ouvi aqui há dias de um delegado sindical da PSP: "Um polícia só pode disparar depois de morto..."A PJ precisa de mais efectivos, de mais cursos de formação, de mais motivação.
Só isto já seria uma achega suficiente para os larápios temessem mais antes de particar um crime. Às vezes dá vontade de ir viver para Timor, porque lá, ao menos, a GNR é respeitada.
Quanto aos bairros sociais, não adianta chorar. Sabemos que são erros dos anos 70 e 80, sabíamosmos que ia dar problemas,mas isso são lamurias passadas, agora há que revitalizar, reconstruir, insistir, trabalhar, espremer e melhora o "Escolhas" e outros que tais, não cair no "ai não construimos que eles vandalizam logo".
Quanto às leis, sistema prisional e prisão preventiva dava outro post... no geral,neste ponto concordo com o mirones. Posto de outra forma: um setuvaleiro que comete um crime não merece a mini que o alimenta!
Por isso, o assalto ao Lidl revolta-me, como todos os crimes me revoltam. Mas, para já, acho que não vale a pena ir a correr fechar fronteiras e chamar o exército.
Um exemplo positivo para reflexão com o lema de sempre:
as crianças são o futuro!